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quinta-feira, 29 de março de 2012

Greve, não: ANARCHIA

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Carlos Baqueiro

Apareceu hoje um comentário no post publicado no Domingo passado (O Povo Soberano) questionando a existência de anarquistas na Bahia já na década de 20 do Século passado. Na realidade pelo que pesquisei não dá prá afirmar que fossem anarquistas. Agripino Nazareth, por exemplo, que editou o jornal Germinal, tem ações também em São Paulo, junto justamente com os anarco-sindicalistas (felizmente, ainda não inventaram anarcometro). Mas uma coisa é certa. As ideias anarquistas estavam por aqui pela Bahia durante esses anos. Pois em outras fontes se "escuta" falar sobre questões como a negação dos partidos, a crítica à autoridade da Igreja, questões feministas e sexistas, que sempre permearam os ideias acratas em todos os lugares e tempos.

Transcrevo a seguir parte de artigo que criei durante curso de história, abordando justamente a Greve Geral de 1919, em Salvador. Espero que a leitura do texto seja agradável e útil a todos.

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A greve geral tem seu início no dia 3 de junho, iniciando-se com uma parada dos trabalhadores da obra de construção da Biblioteca Pública. Dali saindo em passeata conseguiram a adesão de outros trabalhadores levando o DN a apoiar o movimento: "E que seja o seu movimento coroado de êxito, é o que ardentemente desejamos, nós que sempre estivemos do lado do operariado digno". Centralizando suas ações e planos no Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros, os grevistas, pedreiros, carpinteiros, padeiros, empregados da linha Circular de bondes e operários das fábricas de tecidos, montaram comissões para se entender com empresários e governo.

No dia 4, com a greve mais organizada e forte resolveram criar, sob a liderança de Agripino Nazareth, o "Comitê Central de Greve" sob o mesmo formato daqueles criados nas greves de São Paulo em 1917. Sob a bandeira das 8 horas de jornada de trabalho o "Comitê", segundo o jornal baiano Diário de Notícias, seria encarregado da direção da greve, formado pelo representante dos padeiros, Constâncio Pereira Victório, dos pintores, Odilon Neves da Costa, dos operários da fábrica da Boa Viagem (Empório Industrial do Norte, fundada por Luis Tarquínio no final do século passado), Eleutério Bispo Ferreira, do Sindicato dos Pedreiros, Guilherme Francisco Nery, Antonio Amaro Sant'Ana, Abílio José dos Santos, dentre outros.

É importante notar aqui, abrindo-se um parêntesis, após termos conhecimento, também, dos nomes dos participantes das Comissões de entendimento, e dos feridos do movimento de agosto de 1917, a quase, ou completa ausência de nomes que indiquem a existência de imigrantes estrangeiros. Isto desmistifica a idéia da "flor exótica", que segundo a imprensa das oligarquias e burguesia paulista e carioca, colocaria o imigrante como o corruptor do "bom e pacífico" proletariado brasileiro, levando-o a caminho da greve.

Mas o DN não levaria seu apoio aos grevistas até o final do movimento. A força que a greve parece ter tomado criou um certo mal estar para os políticos ligados ao DN e A TARDE.
A política, porém, a política adversa a situação, ainda curtindo as dores com o insucesso da candidatura Ruy Barbosa, que attribuia aos responsáveis pela governação da Bahia, tentou tirar partido dos acontecimentos, procurando indispor os operários e o commercio com o governo do Estado. (ARAGÃO, Antonio Ferrão Moniz de. A Bahia e seus Governadores na República. Imprensa Oficial. Bahia. 1923. pag 656).
O DN após dias sem ser publicado devido às dificuldades decorrentes da greve como falta de luz, telefone, bondes, etc., muda o discurso no dia 10 (veja imagem do jornal no início da postagem):

"Greve não, Anarchia ! ".

Um comentário:

  1. é isso aí, a história está sempre mostrando que outros anarquismos são possíveis...

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