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quinta-feira, 1 de março de 2012

Nas Ondas do Big Brother

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Carlos Baqueiro
cbaqueiro@terra.com.br

Parece que o Big Brother está mesmo na moda. Na Terça-Feira de Paredão o mestre de cerimônia, Pedro Bial, transformou o programa global popularíssimo em sucursal da Academia Brasileira de Letras. Citou Macunaíma, de Mario de Andrade, e o Malandro Carioca de Chico Buarque, relacionando-os a dois participantes mal vistos pelos assistidores do BBB12. Televisão, por mais que não aparente, e que não se queira acreditar, também é cultura.

O BBB é o reality show brasileiro mais famoso. Daqueles que colocam gente dentro de um local fechado, dezenas de câmeras e microfones, e haja vigilância, junto com uma determinada mistura de exibicionismo e voyeurismo. Ironias e cinismos a parte dou minhas risadas assistindo as baixarias e artimanhas dos participantes.

Apenas me entristeço porque nem todo mundo sabe de onde vem o termo Big Brother.

Bem que Bial poderia qualquer dia desses aproveitar a bela audiência que tem o programa e falar de George Orwell. É dele a idéia de um Big Brother (Grande Irmão) que se encontra 24 horas por dia de olho em cada um dos habitantes da Inglaterra (no livro 1984, denominada Oceania, junto com os Estados Unidos).

Encontrei na Internet as revistas Filosofia e Aventuras na História abordando justamente a obra de Orwell.

No artigo (capa da primeira revista) “Como Eles nos Controlam ?”, o Mestre em Filosofia Renato Bittencourt faz uma análise das obras de Orwell (1984) e de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo). A partir das teorias de Michel Foucault acerca da Sociedade Disciplinar ele percebe como em ambos os livros os autores conseguem sintetizar a idéia de que “a aspiração utópica pela estabilidade social corre o risco de se tornar uma distopia”.

Bittencourt também percebe como, por exemplo, duas sociedades com propostas diferenciadas com relação ao sexo têm no final das contas os mesmos objetivos com relação ao controle sobre os indivíduos. O sexo em 1984 é censurado, inibido, castrado:
O projeto do Partido era eliminar todo prazer no ato sexual. A pulsão sexual era perigosa para o Partido, que a utilizava em interesse próprio. Tal dispositivo é um grande mecanismo para a ampliação do grau de tensão psíquica da massa, que, impedida de gozar e satisfazer os seus desejos, reprime os seus instintos e se aliena das suas capacidades transformadoras, tornando-se infeliz e submissa diante da autoridade de uma ideologia política vazia, que usa palavras de ordem e da manipulação de informações para concretizar o seu poder totalitário..
Enquanto isso, na sociedade criada por Huxley as práticas sexuais são incentivadas pelo Estado. A liberalidade sexual neste caso ao invés de representar uma situação positiva para os indivíduos se torna mesmo uma armadilha. Junto com uma droga (também liberada pelo Estado) chamada Soma, a “liberdade” sexual torna-se uma ferramenta de alienação e controle da população.

Já na revista Aventuras na História de Abril de 2010 (encontre o download rolando por sites na rede, ou compre a Revista no site da Editora Abril) encontramos também uma outra análise do livro de Orwell no artigo "O Grande Irmão está te Vigiando", escrito por Álvaro Opperman.

Neste artigo o autor faz um pequeno resumo da história do livro 1984, além de uma biografia reduzida de Orwell.

Ao final do artigo o autor faz uma ligação entre os BIG-BROTHERS de Orwell e o de John de Mol (criador da idéia do famoso reality show). A relação entre autoritarismo e voyeurismo é debatida. John de Mol tenta explicar que “na obra de Orwell é o governo que observa tudo através das câmeras – ele fala de autoritarismo e não de voyeurismo, como é o nosso caso”. Contradizendo esta opinião, Opperman cita o historiador Johann Huizinga para quem “uma das chaves para o sucesso dos regimes autoritários é estimular a bisbilhotice alheia”.

Isso nos faz lembrar das nossas conhecidíssimas ditaduras: Cuba e China, apenas como exemplo, quando até hoje uns deduram os outros, e as prisões ainda ocorrem sem qualquer direito de defesa. Cuba até bem pouco tempo possuía um dos maiores e mais “brilhantes” esquemas de deduragem, os CDR (Centro de Defesa da Revolução) onde desde crianças os indivíduos eram treinados a identificar indícios de contestação ao regime, onde quer que fosse, nas suas escolas, e mesmo dentro de suas próprias casas. Vem a mente uma sequência de 1984, quando o próprio filho dedura o pai, ambos vizinhos do desesperado Winston Smith.

Da mesma forma que Cuba levava seus “subversivos” aos paredões, nesses tempos de reality shows somos nós mesmos que temos o poder de levar aqueles que não nos agradam aos paredões midiáticos, conseguindo premiar tanto Macunaímas, quanto Alices.

12 comentários:

  1. Extraordinário notar, Baqueiro, que escrevemos sobre o Grande Irmão como se fosse algo distanciado de nós. No entanto, o que ocorre na real é que estamos vivendo, neste momento, no Brasil, a construção de uma ditadura que pretende controlar o pensamento de todo o país através de um discurso único. Todos os partidos estão sendo cooptados. Todos os movimentos sociais estão sendo cooptados. As redes sociais têm vigilantes que estão prontos a esculachar qualquer pensamento desviante. Acho que 1984 já começou e Oceania é aqui mesmo. Quem viver verá.

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  2. algumas perguntinhas ferrazicas:

    por que o bbb12 faz tando sucesso?
    por que o lula faz tando sucesso?
    por que o obama faz tando sucesso?
    por que a crise faz tando sucesso?

    porque sentamos e esperamos que o mundo em nossa volta mude... sem que tenhamos de abrir mãos de algumas coisas que nos são caras:

    segurança; segurança e mais segurança!

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  3. Este é o blog e vc é o cara, parabéns pelo engajamento e visão crítica. Denis Quadros

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  4. acéfalo do j. c.:

    não tema o CAOS, pois você já vive nele..., portanto faço minhas as palavra do russo tolstói:

    "Os homens temem este desconhecido no qual entrariam se renunciassem à atual ordem de vida conhecida. Sem dúvida, é bom temer o desconhecido, quando nossa situação conhecida é boa e segura; mas este não é o caso e sabemos, sem margem de dúvida, que estamos à beira do abismo."

    Liev Tolstoi

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  5. dois ou mais de três em um
    ..............

    Há os zumbis do crack. Serão tantos quanto os hikikomoris, designação que no Japão se dá aos que vivem colados ao computador? Serão tantos quanto os falastrões do Facebook? Serão menos que os serviçais inovadores de programas a fomentar a racionalidade neoliberal? Serão o que é ou o que será?
    .......................
    http://www.nu-sol.org/flecheira/pdf/flecheira233.pdf

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  6. No BRASIL ALICE nunca estará atrasada e nem se deslumbra mais descobre-se uma bela adormecida no corpo da cinderela querendo ser rosane collor dos anos 90...ACORDA ALICE, E DESLIGA A CAMERA......

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  7. Muito distante da realidade esta teorização sobre o controle da sociedade pelo governo. Os fatos mostram que no Brasil a institução mais empenhada em controlar a sociedade é o Exército brasileiro. Seus comandantes teorizam e adotam como missão a segurança interna e externa; os inimigos externos são os outros países, exceto os EUA de quem servos; a segurança interna é voltada para neutralizar e viagiar aqueles segmentos mais ativos da sociedade que se empenham em lutar para partilhar o poder lutando por um democraca substancial e a distribuição de renda.

    Os inimigos internos são os militantes de esquerda, os movimentos sociais, jornalistas críticos e quem mais não concordar com a ordem econômica e semi-escravocrata em que vivemos.

    Para este intento de controlar a sociedade o Exército usa tudo: a ABIN, que deveria ser um órgão de assessoria do Presidente da República, os serviços secretos das Forças Armadas como o CIE, do Exército, o CENIMAR e o CISA, sem contar os DOI-CODI's que mudaram de nome para Subseção de Informações.

    Infiltram "arapongas" em quaisquer ambiente e devem usar maciçamente a interceptação da internet e das ligações telefôncias. Como ação para neutralizar seus alvos, como não podem mais prender e matar ou tortura para "dissuadir", valem-se atualmente da contra-informação, desinformando e difamando através do PIG ou por redes de mensagens para e-mail's ou sites fascistóides.

    Nenhuma instituição dispõe de mais recursos, dinheiro público, e vontade para tentar controlar a sociedade brasileira a serviço de uma classe, a dos ricos e muito endinheirados desta país que o Exército brasileiro, que continua muito ativo politicamente e agindo nas manobras de contra-informação através de interpostas pessoas.

    Baqueiro leia o livro "MINISTÉRIO DO SILÊNCIO" de Lucas Figueiredo para se apor mais em fatos sobre este tema tão importante e de sua predileção.

    Leia o livro citado e volte a escrever aqui sobre este tema.

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    1. A revista VEJA e toda a imprensa golpista que antes pregou abertamente a derrubada de Jango, JORNAL DO BRASIL, TRIBUNA DA IMPRENSA, de propriedade do sem caráter e pretendente a ditador Carlos Lacerda, O GLOBO e A FOLHA DE SÃO PAULO sempre serviram aos conspiradores dos quartéis, eram apenas o longo braço para a galvanização da opinião pública preparatória para o golpe.

      A imprensa controlada pelos interesses estrangeiros, que inclusive recebeu doláres para preparar a opinião pública para o golpe de 1964 continua ainda hoje com este intento golpista e obviamente servindo ao braço armado dos clubes militares que têm apoio nos quartéis.

      Tratar a parte mais ativa politicamente da sociedade como o inimigo interno faz parte da doutrina ensinada nos quartéis; o Exército nunca escondeu isso. Quem quiser conferir isso basta olhar em um dos livros publicados pela BIBLIEX, editora do Exército, "OS TREZE MOMENTOS", do hoje General Alberto Mendes Cardoso, que ocupou cargo importante no governo de FHC. Neste livro, uma análise da obra de Sun Tzu, A ARTE DA GUERRA, ele afirma que a abrangência da profissão de militar é a administração da segurança e a maneira de fazê-la melhor é preparar-se diuturnamente para a defesa externa e interna (pags. 10/11).

      Assim, o alvo da espionagem do Exército é a sociedade, mais especifivcamente quem faz política pela esquerda pois a tentativa de controle é para favorecer a direita, manter a ordem, deixar tudo como se encontra. Na visão deles nenhum direito seria ampliado, nem casamento de pessoas do mesmo sexo, não teria movimentos sociais como o MST, nem central sindical como a CUT, nem o PT chegaria ao poder. Tudo seria mantido como dantes para o bem exclusivo dos mesmos.

      Coragem pra invadir um país vizinho e enfrentar um contingente também armado eles não tem, mas perseguir civis desarmados é com eles mesmos. Corja miserável, covardes. Inimigos da sociedade e da democracia.

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  8. Haja saco... Que a conspiração existe, existe, mas a Veja nem existia na época de Jango... kkkkkk... falando em falta de saco, acho que alguém tomou choque demais nos bagos e a eletricidade passou direto pro cérebro. Esse cara ai em cima bem que podia criar o próprio blog dele falando essas teorias.

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    1. Quem disse que VEJA foi criada na época de Jango, otário? Vai aprender a ler imbecil; Veja foi criada em 1968, mané, até as pedras das ruas do pelouriho sabem disso.

      O Exército só vigia e persegue quem tem miolos, não otários analfabetos e direitistas como alguns deste blog direitista.

      O mané é adepto da leitura dinâmica; vai aprender a ler otário, o MOBRAL já acabou mas deve existir o sucedâneo; se não tiver se jogue do Elevador Lacerda, mas por favor, durante a noite, para não atrapalhar o trânsito...

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  9. Impressionante seu texto. Verdadeiro e atual. Realmente somos todos Big Brothers. Sempre vigiados...
    Por um lado é importante essa vigilância, pois muitos crimes estão sendo desvendados graças a essa vigilia da sociedade.
    Ainda ontem senti falta das câmeras quando da reportagem no Jornal Nacional, falando do crime de vários rapazes tocando fogo nos corpos vivos de dois moradores de rua.

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  10. Parabéns C.Baqueiro.
    Esse artigo me remeteu a leitura dos livros em questão,que analise. Triste mesmo é a certeza que estamos vivendo tudo outra vez.

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