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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

JORNAL COMENTADO 25


 TONY pacheco*

6:14 – 26.12.2012 – quarta-feira

"Brasileira suspeita de matar os filhos é presa"
(Correio)


Ísis amamenta filho Hórus: desde o Egito Antigo mito da mãe boazinha é alimentado

De Portugal vem a notícia de que uma brasileira moradora de Alenquer, matou os dois filhos, um de 1 ano e outro de 3 anos, num incêndio premeditado. Os vizinhos garantiram que era uma mulher “pacata, discreta e comedida”. Tudo isso aconteceu no dia 17 e a Polícia portuguesa a prendeu ontem.
Isto posto, lembramos que na véspera de Natal tomamos conhecimento de uma mãe baiana que entre uma cerveja e outra (quando não tá tomando umas “quentes”), abandona o filho à própria sorte, enquanto se delicia com este Verão estupidamente ensolarado de 2012. Ainda briga com o filho por ser “exigente” demais. Com perto de 50 anos, ela está na flor da nova mocidade.
E, por fim, lembramos a menina-mãe que deu à luz no Subúrbio Ferroviário e abandonou o bebê no lixo. E não foi por trauma pós-parto, ela disse que não queria carregar aquela “mala” pro resto da vida. Só isso.
E aí vamos direto para os livros, nossos professores eternos. O melhor sobre a construção de mitos, é de Roland Barthes, “Mitologias”, cujos exemplos são tão emblemáticos que nos permitem fazer ilações em todas as direções. Rimou! O mito da mãe carinhosa, nesta época de fim de ano, é recorrente. Todos pensam que a culpa é da religião judaico-cristã chamada Catolicismo. Mas não é. A Igreja Católica apenas deu uma “chupada” (como dizem meus amigos publicitários) em mitos muito mais antigos que Jesus.
“Mitra, o Sol Invicto, nasceu do deus-supremo Aúra-Masda, que despejou a sua luz sobre uma virgem, Anahira. O seu nascimento era celebrado como “o deus menino Mitra, que traz luz ao mundo” (você já ouviu isso em algum templo cristão, não é mesmo?). E mais: a representação de Anahira com o menino-deus Mitra é totalmente igual à de Maria com Jesus. Aliás, este é um mito recorrente: também Hórus, deus-menino no Egito, filho de Ísis e Osíris, é representado com a mãe de maneira igual às madonas que os pintores cristãos difundiram.” Seja séculos antes de Cristo, onde antes era a Pérsia, seja no Egito dos faraós ou numa casa sofisticada do Caminho das Árvores, em Salvador, se cultua o mito da mãe carinhosa que gera verdadeiros deuses, nós. Imagine! E são perfeitas, não têm defeitos. Só virtudes.
Roland Barthes nos ensina que os mitos são fruto da cultura que deseja símbolos nos quais miremos nossa conduta. A verdade, no entanto, é que mães são mulheres e isso significa que são seres humanos. Uma tautologia, não é mesmo? E se são seres humanos, pecam, odeiam, são egoístas e, muitas vezes, acham a maternidade um fardo intolerável. Daí para o assassinato dos filhos ou o prosaico abandono, é um passo, pois nem todas as mães são como a agora pranteada Dona Canô.
Pense nisso neste fim de ano: nenhuma mulher é obrigada a ser mãe perfeita apenas porque o filho e a sociedade assim o desejam. Isso não é exigido dos homens, portanto, a mulher tem o direito de ser o que quiser, de mãe carinhosa a mãe assassina. E ponto final.

REFORMA ORTOGRÁFICA
“Brasil vai adiar início por 3 anos”
(Tribuna)

E o acordo ortográfico firmado em 1990 pelos países que usam o Português como língua oficial e deveria ter entrado em vigor em 1994, novamente é adiado para primeiro de janeiro de 2015, porque “os professores não tiveram tempo de se atualizar e se não sabem, não podem ensinar”.
Fez muito bem a presidente Dilma Rousseff, afinal de contas, se ouvirmos os discursos de TODAS as nossas autoridades do Executivo e do Legislativo, com RARÍSSIMAS EXCEÇÕES, veremos que os “tô falano”, “vâmo discutí”, “tô sabeno” são MAIORIA em relação aos “estou falando”, “vamos discutir” e “estou sabendo”. O ex-presidente Lula, neste sentido, é um exemplo clássico do domínio da língua culta por um supremo mandatário brasileiro...
Na verdade, o Brasil chegou a uma encruzilhada em termos do uso da Língua Portuguesa: ou admite que já falamos e escrevemos uma OUTRA LÍNGUA e coloca um grande número de especialistas para forjar as regras desta NOVA LÍNGUA, a brasileira; ou então, EDUCA O NOSSO POVO e, aí, não precisa de reforma ortográfica nenhuma. Basta ensinar as pessoas a falar e escrever.
Esta segunda opção é IMPRATICÁVEL, embora pareça a mais lógica e é a que Dilma tem perseguido junto com seus antecessores no cargo. Impraticável porque TEMOS GENTE DEMAIS, quase 200 milhões de pessoas. Seria um esforço trilionário educar todos os brasileiros. De mais a mais, nossas classes dominantes têm HORROR à simples possibilidade de termos um povo culto, que seria sinônimo de povo que não elegeria mais do que meia-dúzia dos atuais ocupantes dos cargos públicos. Educação é sinônimo de sabedoria e pessoas sábias não realizariam, por exemplo, uma Copa e uma Olimpíada apenas para DAR DINHEIRO A UM BANDO DE GANANCIOSOS que não pensam em seu país. Portanto, em síntese, se eu fosse presidente deste País (parodiando nosso Guia Genial) eu separaria, de vez, o Brasileiro do Português, criando uma nova língua, com REGRAS MAIS SIMPLES (adaptadas, inclusive, aos nossos governantes, a maioria simplória).
Porque, na real, convenhamos, Português como é falado em Portugal, só existe entre os 10 milhões de portugueses da Europa e não mais do que 2 milhões de portugueses cultos em Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, Angola, Cabinda e Moçambique. O grosso dos povos destes países, falam línguas locais ou um “patuá” que mistura línguas aborígenes com o Português, como o fazemos no Brasil. Já estive em Portugal por um longo tempo e todos que já estiveram sabem disso: não conseguimos entender os portugueses da Europa nem eles nos entendem, a não ser falando PAUSADAMENTE E TRADUZINDO, POR MINUTO, O QUE ALGUMAS PALAVRAS SIGNIFICAM. Não falamos mais a mesma língua. O resto é conversa para boi dormitar, como diz meu amigo, o jornalista Alex Ferraz.

* Tony Pacheco tem formação acadêmica em Economia, Jornalismo, Radialismo e Psicanálise, o que nem sempre é útil...

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