JORNAL COMENTADO 53

tony PACHECO*

6:08 – Quinta-feira – 14.02.2013

RENÚNCIA DO PAPA É CRISE DAS RELIGIÕES E NÃO SÓ DO CATOLICISMO

“Renúncia irritou ala conservadora da Igreja”

(“Estadão”)

“Para jornalista que divulgou documentos secretos do papa, cúria está dividida”

(“Folha de S. Paulo”)

O papa Bento XVI quando era apenas o jovem soldadinho nazista Ratzinger: depois perguntam por que os católicos na Europa caíram de 62% para apenas 36% na atualidade...

Pelo que se vê na mídia, o comprometimento dos donos com o “establishment” religioso impede que análises mais próximas da realidade possam ser lidas.

Bento XVI renunciou porque é um papa INCOMPETENTE para o desafio para o qual foi eleito. E qual é este desafio? É o mesmo de todos os líderes religiosos cristãos na atualidade: RECUPERAR O REBANHO PERDIDO.

Os Estados Unidos, no ano passado, anunciaram, não sem uma preocupação aterrorizada, que já não são mais uma nação predominantemente protestante. Os protestantes agora são 48% dos americanos. E não foi avanço dos católicos ou dos muçulmanos por causa de Barack Obama. Foi porque 20% dos americanos já se declaram SEM RELIGIÃO. Não são ateus, a sua maioria, mas simplesmente pessoas cultas demais para ficarem atrás de padres ou pastores, ou pobres demais para seguir uma religião e dar os seus últimos tostões aos mercadores da fé. A crise religiosa está atacando no alto da pirâmide social e no lumpenproletariat, os paupérrimos, que só pensam mesmo em pagar contas e comer.

Na Europa a coisa é MUITO PIOR. Segundo os estudos dirigidos pelo Fórum sobre Religião e Vida Pública do Pew Research Center, realizados em 2010, há países na Europa em que metade da população não se identifica com religião alguma, como é o caso da França, com 50% dizendo ao mundo que não quer saber de padres nem pastores. Na Alemanha, outrora um bastião de protestantes e católicos, 46% dizem que não seguem mais religião alguma e no Reino Unido, que tem uma religião nacional chamada Anglicanismo, chefiada pela rainha, 33% dos cidadãos já se dizem sem religião, isto é, 1 em cada 3.

Em termos continentais, a Europa, de 1999 para 2008, viu o número de católicos diminuir de 62 para 36%, e o de protestantes, de 25 para 14%.

O DESAFIO

Ao ser eleito em 2005, sucessor de João Paulo II, o cardeal Joseph Ratzinger, da mais rica Igreja Católica da Europa, a da Alemanha, assumiu o título de Bento XVI com a promessa de, por ser alemão e, portanto, fama de ser organizado e competente, FAZER O REBANHO VOLTAR OU CRESCER.

Mas logo vieram as revelações terríveis sobre ele. Pertenceu à Juventude Hitlerista, sim, Nazista, o que já lhe rendeu o apelido de “PapaNazi” (pápanázi).

Depois vieram as explicitações do seu credo conservador: combateu publicamente a entrada de mulheres no clero (só aí já perdeu, por baixo, metade dos católicos, justamente as mulheres); depois combateu o homossexualismo, indo contra a própria História, que aponta para o respeito, e, aí, perdeu mais uns 10% do rebanho; depois combateu o uso de camisinha e o aborto, dizendo ser coisa do Demônio e baboseiras semelhantes ao que os evangélicos dizem e, aí, perdeu QUASE TODO O REBANHO JOVEM de homens e mulheres.

Aí, já não mais por INCOMPETÊNCIA e sim por AZAR, recrudesceu a crise da PEDOFILIA, os padres e bispos que adoram meninos e meninas. Bento XVI tinha prometido ser duro como qualquer alemão nestes casos, mas não foi o que se viu na Irlanda nem nos EUA e outros países. Os clérigos foram afastados, MAS NÃO FORAM ENTREGUES À JUSTIÇA COMUM de seus países para serem punidos. Neste caso, lá se foram mais milhares de ex-crentes para as estatísticas de esvaziamento.

Por fim, no ano passado, Paolo Gabriele, um dos secretários particulares de Bento XVI, resolveu passar para o jornalista Gianluigi Nuzzi, documentos particulares do papa dirigidos ou recebidos ao e do clero americano. Nestes documentos, conhecidos como

"Vatileaks" (seria o WikiLeaks do Vaticano...), viu-se que a CORRUPÇÃO nos negócios da Igreja Católica invade todos os escalões do comando da maior igreja do mundo.

Paolo Gabriele foi condenado a 18 meses de prisão por ter vazado os documentos, só que o próprio Bento XVI logo depois o perdoou e o tirou da cadeia, fazendo parecer aos bispos ofendidos pelas suas denúncias de corrupção, que o papa APOIAVA o vazamento para desmoralizar parte da Cúria Romana, aqueles cardeais, a maioria italiana, que se constitui numa verdadeira máfia, com ramificações dentro do próprio Banco do Vaticano.

Depois de tantos problemas para os quais O PAPA NÃO TINHA SOLUÇÃO, surgiu, então, a possibilidade de renúncia, pois Bento XVI se tornou um papa que não governa TODO O VATICANO e, sim, apenas uma parte, igualzinho aquele país distante que vocês sabem qual, onde há, também, uma dualidade de poder. E como o imperador romano Adriano nos ensinou há 2 mil anos, a coisa funciona mais ou menos assim: “NÃO HÁ PODER QUE SE SUSTENTE COM O INIMIGO BATENDO ÀS SUAS PORTAS” ou já dentro de casa...

CÉU OU INFERNO

Para os amigos do papa e para aqueles que comungam das idéias retrógradas de Bento XVI (misóginas, homofóbicas e racistas), ele com certeza começou a sua ascensão para o Céu após a renúncia ao mais poderoso cargo religioso do planeta Terra.

Para seus inimigos, que não esquecem que seu catolicismo germânico ajudou, e muito, Adolf Hitler, ele está iniciando o caminho para o Inferno, pois estes inimigos não esquecem que as igrejas católicas alemãs receberam a invasão da Áustria por Hitler (“Anschluss”) com um repicar de sinos em 14 de março de 1938, saudando Adolf como um novo Cristo...

* tony Pacheco tem formação acadêmica em Psicanálise, Jornalismo, Radialismo e Economia e apesar de ter sido um fervoroso cristão na infância, hoje está com os SEM RELIGIÃO.