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sábado, 27 de abril de 2013

Você faria um Pic-nic em Auschwitz? Ou: LEMBRAR SEMPRE...

             Campo de extermínio de  Auschwitz


Ricardo Líper

A minha posição sobre o metafísico é de dúvida. Será que existe mesmo algo além do puramente material? Contento-me com a frase: eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.  Nesse ponto eu sou agnóstico, isto é, nem afirmo nem nego, pesquiso até, sou curioso, não me nego a ler, observar e, se não faz mal, tomo algumas precauções e sigo alguns conselhos de pessoas mais entendidas no metafísico do que eu. Sempre fui humilde quanto ao conhecimento. Tenho certezas mais firmes, mas não aceito nem rejeito, sem uma pesquisa mais detalhada, a opinião dos outros, por mais bizarras que possam me parecer à primeira vista. Assim sendo, vamos falar de duas coisas hoje: por um lado, da parte metafísica e da outra,  sob o ponto de vista da estética. Vamos analisar como o Mal pode se inserir na estética. A nossa cidade tem passado por uma série de assassinatos, isso já é noticiário constante e todo mundo sabe. A morte de um ser humano por outro, seja qual for o pretexto, é um dos crimes de maior violência em todos os tempos e povos. Ou, pelo menos, nos povos que formaram nossas tradições, é uma maldição. Segundo o Dicionário da Bíblia de Almeida a maldição é um chamamento do Mal, sofrimento ou desgraça sobre alguém ou alguma coisa que passa a ser maldito.
            Trata-se, portanto, de uma ação do Maligno sobre uma vida, situação ou local; cuja legalidade da ação pode ser através da família (tb. chamada hereditária), por meio de palavras proferidas ou ainda por meio de auto-declarações.[1]
            Em minha opinião e nos sentimentos que brotam do que vou narrar, os locais onde foram cometidos crimes violentos, como na Praça 2 de Julho, em Salvador, chamado pelo povo de Campo Grande, com o assassinato do nosso aluno da Universidade Federal da Bahia, ficou amaldiçoado. Não só o local, mas todos os envolvidos e também os profissionais do poder que não tomaram as medidas necessárias para que isso não pudesse ocorrer. Acho que para uma pessoa que não é cínica, abrir as janelas de seu apartamento e ver essa praça amaldiçoada deve ser um constrangimento. Eu faria tudo para me mudar, o mais rápido possível, se lá morasse. E despejaria das janelas um pano preto em sinal de luto e repulsa. Para ver se você me entende: você moraria em uma casa que várias pessoas foram assassinadas?  Ou mesmo em uma casa na qual, no jardim, aconteceu um crime como o que ocorreu na lagoa dessa praça que, a partir de agora, não  pronuncio mais o nome. Passar por ela, quer dizer, entrar nela, procurarei, ao máximo, não fazê-lo. Acho que pode atrair coisas ruins. Ela passou a ser um local sinistro e as pessoas que lá moram, por melhores que sejam, moram em um local sinistro e eu as temo. A estética confirma isso. Quando ocorre algo tão terrível como ocorreu esse assassinato nessa praça maldita, o local fica também esteticamente amaldiçoado. As pessoas o temem. Se sentem mal ao relembrar o que ocorreu.  Já outros, onde os seres humanos foram felizes, respeitados, só ocorreram coisas boas, parece, a todos nós ou é a verdade, que a bondade, a luminosidade do bem cola nas coisas. Você compraria uma faca de um serial killer para ter em sua casa como decoração?  É isso que estou falando. A arte usa a imaginação e a imaginação, muitas vezes, é uma maneira pela qual a verdade se revela. Os objetos usados, vamos dizer, pela nossa imaginação, ficam tatuados pelos seus donos assim como os prédios, as ruas, as cidades. Eu não gostaria de ser nenhum daqueles que com sua ausência, falta de visão, não se responsabilizaram para dar a segurança a todos nesse infeliz País. Nossa cidade está virando uma cidade de lugares cada vez mais amaldiçoados. A maldição, por mais que rezem, do sangue dos inocentes que jorraram pela negligência dos profissionais do poder, os deverá atingir. Repare o fim dos carrascos, que na sua maioria, viveram mal, atormentados e muitos morreram de morte trágica. Mussolini e Hitler são exemplos entre milhares. Por via das dúvidas, em locais amaldiçoados eu evito passar. Não gosto de locais onde o sofrimento foi a regra. Gosto de locais onde se cantou, onde as pessoas estavam felizes, solidárias, onde a energia positiva de todos se unia sem diferenças de cor, tamanho e essas centenas de diversidades que o ser humano apresenta. Mas a essência das pessoas é serem todos humanos: gostam de carinho, sorrisos, querem viver mais um pouco, e quando felizes, riem, cantam e dançam. Sim, isso é ser humano, e o que Cristo disse: amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. E tudo que não for isso, no meu entender, é maldição. Todos, que como já disse, mesmo usando o seu nome em vão, com sua avidez pelo poder e a ganância pelo dinheiro, fizerem o contrário, vão ter de enfrentar a maldição. A avidez pelo poder para o enriquecimento pessoal e de equipes associadas é o oitavo pecado capital. E pessoas malditas fazem mal até se olhadas em fotos, dizem alguns. A vida tem uma limitação de tempo, é melhor olhar para a foto de Doris Day, Madonna, Cesárea Évora, Ella Fitzgerald, Daniela Mercury, Vanessa Redgrave... ou de Hitler? O que lhe faz se sentir melhor? Ou caso a Polônia construísse, no local do campo de concentração Auschwitz, apartamentos de luxo e baratos, você moraria lá?

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