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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Correios em Salvador

Ricardo Líper
Uma das coisas que acho mais importante é narrar o que acontece de ruim comigo. Além de contar a todo mundo oralmente, narrar como um estilo de literatura que não sei se já está catalogado. O narrar suas dificuldades impostas pleos outros, por grupos ou empresas. Anne Frank, com o seu diário, no meu entender, fez um trabalho importantíssimo. Recentemente vi também um filme excelente baseado em fatos reais que foram narrados em um livro sobre como um negro livre foi escravizado de novo. Espetacular. Não deixem de ver Anos de Escravidão baseado nesse livro que é a historia real de Solomon Northup. Ele escreveu sobre suas torturas e injustiças, depois, quando conseguiu se libertar. Acho isso um tipo de literatura muito importante porque desnuda a injustiça pura e simples. O que mais gostei nesse filme foi uma cena em que o dono dos escravos, que os explorava debaixo das mais violentas atrocidades, os reunia e lia a Bíblia. A perversidade, as relações de poder, transcendem e se exercem sob qualquer bandeira, ideologia e religião. Ela é por si só completa. Não precisa justificação. Outra coisa: suas explicações não importam. Nem precisa se saber se suas justificativas são mentiras, ideologias. O que interessa é a injustiça, o prejuízo causado ao outro seja sob que pretexto seja. 
Então estou narrando aqui minhas dificuldades quando não recebi mais minhas contas para pagar e nem os livros que comprei na Estante Virtual. Ou seja, recebi um depois de um mês e não sei se receberei os outros, ou melhor, quando receberei. O fato é esse. Não me interessam as explicações. O que me interessa é que eu fui afetado, sofri com isso, tive uma série de contratempos e não posso nem devo deixar passar assim sem nenhuma reação. É preciso registrar e isso estou fazendo. 
Então estamos aqui ampliando esse estilo de literatura que é narrar, sem comentários ou explicações, aquilo que nos afeta. Não interessa quem fez, qual sua cor, qual sua crença, qual sua maneira de pensar, a que partido pertence nem como explica sua negligência, sua falta de respeito ao outro, suas mentiras ou verdades que não os inocentam. Narra-se apenas o fato. Sugiro também que façam isso. Narrem por escrito, datado. Vocês não imaginam como isso é importante. Narrar simplesmente. Apenas narre não precisa aumentar, não precisa caluniar. Hoje podemos narrar na internet. Não me interessa o que ocorreu para eu não receber meus livros comprados, os boletos de minhas contas e o sofrimento infligido contra mim. Empresas privadas ou estatais visam ganhar dinheiro. E para isso fazem tudo que podem. Assim são criadas e assim operam. É um fato. Portanto, o que elas falam não me interessa. A questão não é ela se explicar se está mentindo ou não. Não lhes dou essa chance. Não quero que alguém me explique o que faz. Só me interessa narrar o que me prejudicou. Se me prejudicou eu conto. Se me afetou eu conto. Por que ficaria calado?  O sofrimento infligido pelo outro à nossa pessoa deve ser narrado. Apenas isso: contado por escrito, para ficar para a eternidade, o que ocorreu com a gente. Um diário de nossas adversidades infligidas pelos outros.  Faz mal você sofrer calado. Todo seu corpo sofre e também o seu sistema imunológico. É uma terapia narrar. É a conselho médico, portanto. Aliás muita gente paga caro a um terapeuta para narrar as suas injustiças e maldades que as estão afetando. Eu prefiro criar uma terapia nova: narrar o que me afeta para todos na internet ou nos meios que puder pra divulgar e, o mais importante, registrar para a eternidade para os pesquisadores do futuro. Vamos praticar o  annefrankismo.
Agora, um detalhe, conserve ou gere documentos para confirmar o que você está contando e só fale e descreva o que lhe aconteceu, de fato, friamente, sem aumentar ou diminuir, citar nomes de pessoas ou interpretar o que fizeram com você. Lembrem-se nesse diário de seu sofrimento que só importa narrar os fatos pura e simplesmente. Apenas isso. Não ofenda. Seja delicado com os funcionários. Mas narre o que lhe aconteceu porque é uma questão médica que fará muito bem a seu corpo. A narração pública de seu sofrimento motivado por empresas públicas ou privadas é uma das melhores terapias e remédio para evitar ansiedade, depressão. Como o povo diz: desabafe. Ah! que alívio.  

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