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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

ALEX FERRAZ

O panetone que o diabo amassou


Milhares, ouso dizer, milhões de trabalhadores brasileiros que AINDA não estão empregados, não terão nenhum motivo para rir, e muito menos desejar “feliz Natal” amanhã.
Podemos começar pelos funcionários públicos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Piauí, onde a “crise” tem feito com que os administradores públicos atrasem de forma cruel o pagamento de salários. No Rio de Janeiro, por exemplo, nem um centavo do 13º foi pago, para não falar nos salários de meses, e nas aposentadorias. Ontem, pela manhã, aliás, o jornal Bom Dia Brasil, da Globo, exibiu ampla reportagem, inclusive com  muita gente humilde (ser humilde nesta selva Brasil é mesmo uma desgraça) chorando, porque sequer poderá comprar um frango assado para substituir o peru, privilégio, é claro, dos que se locupletam com a “crise”.
Pieguices à parte. Devo reafirmar aqui que ABSOLUTAMENTE não creio em “crise”, na medida em que se impõem sacrifícios atrozes aos trabalhadores, enquanto presidente, senadores, deputados, vereadores e prefeitos, por exemplo, seguem vivendo nababescamente, transportando-se em carros de alto luxo e, claro, gerando despesas bilionárias para o Estado.
Se Temer, Calheiros, Rodrigo Maia, Paulo Skaff (presidente da Fiesp) e tantos outros, incluindo prefeitos e asseclas, estivessem locomovendo-se em Fiat Uno, Gol Mil ou outros carros populares (como, aliás, fez o Papa quando esteve no Brasil), daria para ter um mínimo de credibilidade, digo mais, respeito por suas argumentações.
Porém, na medida em que o setor público e boa parte do privado insiste em penalizar o trabalhador nesta “crise”, enquanto se locupleta com mordomias mil, de iates a férias nababescas no exterior, o mínimo que se pode dizer é que, neste país, o respeito ético pelos que produzem é nenhum, em todas as esferas.
Enquanto isso, os sindicatos, depois de 13 anos mamando mais do que nunca (porque, de alguma forma, sempre mamaram) nas tetas oficiais, estão travados, mudos, nada fazem a não ser produzir factóides político-eleitoreiros, mas, pelo visto, sempre entram em “acordo” com o poder e tudo segue como se fosse uma reação “normal” à crise.
Na verdade, em todas as ditas “crises” econômicas recentes, vide Europa e Estados Unidos,  estes por volta de 2008, sempre quem saiu perdendo foi o trabalhador, o aposentado, enfim, aqueles que, embora trabalhem para manter a economia, são, no final das contas, os “culpados” e devem ser execrados, humilhados, submetidos até mesmo à fome.
No entanto, prezados leitores, há uma diferença monumental entre ser desempregado na Europa, ou mesmo nos EUA, e nesta imitação patética de país que é o Brasil.
Cito, por mero exemplo, o caso de um amigo que mora (Deus benza!) desde a década de 1980 na Europa, mais precisamente na Áustria, a quem encontrei, em plena “crise” europeia, a caminhar tranquilo pelas calçadas da Barra. Espantado, lhe disse: “Fulano, você  está desempregado na Áustria, como e por que veio até aqui?” E ele me respondeu; “Ora, Alex, lá recebo um seguro que dá tranquilamente para pagar passagem de vinda e retorno. Além do mais, vim visitar meu pai, que está doente.”
Bem, posso parecer deslumbrado com  tal situação, mas a real é que representa o que de verdade acontece em países onde governantes e iniciativa privada têm um mínimo de respeito por quem trabalha.
É por essas e outras, repito, que não dá para acreditar nesta elite que hoje governa o País, que, na verdade, está dando mais um grande golpe na classe trabalhadora, sob o argumento de “crise”. Não estou aqui a defender Lula, Dilma, PT, coisa nenhuma. Eles também engabelaram, e como, o povo brasileiro. Parece ser a nossa sina. Pois é...

Alex Ferraz é colunista diário e repórter da "Tribuna da Bahia".

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